O que nunca foi dito com franqueza sobre as profissões


Profissão é o estado, condição social, papel de um indivíduo que exerce um emprego, ofício ou arte como meio de vida ou ocupação habitual, na qualidade de subordinado ou por conta própria e visando algum tipo de reciprocidade.

Da mesma forma, chama-se profissional uma pessoa que já tem inveterados certos hábitos ou vícios, a saber: “Bêbado profissional”, “Chato profissional”, Ladrão profissional”, “Puxa-saco profissional” e por aí vai.

“Profissão de fé” é uma declaração pública que alguém faz de suas opiniões políticas ou sociais.

É esse sentido lato — que privilegia a rotina, o hábito, a prática usual e metódica de um mister — que adotamos aqui para designar as profissões e as atribuições que a certas criaturas toca cumprir por escolha própria ou pelas inconstâncias da fortuna.

Não estranhe, pois, o leitor encontrar arrolados entre os tradicionais ofícios fabris e as artes criadoras alguns modos de vida cuja inclusão possa parecer inapropriada. É que — pela carga semântica, pelo poder evocativo que têm — seu agente os acolhe de forma tão pacífica e os protagoniza com tão inexcedível zelo, que não podem ser considerados como simples passatempo.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

CRÍTICO LITERÁRIO

Profissional de fina observação e juízo atilado que examina as questões literárias com critério, notando a perfeição e/ou os defeitos de uma obra literária.

Comentário

        Comentando qualquer livro, um crítico literário sugere de uma maneira ou de outra que ele mesmo deveria ter escrito o livro se tivesse tempo, mas que, não sendo possível, ficou satisfeito de ver outros escreverem-no... embora, naturalmente, o trabalho pudesse ter saído melhor...

Exemplos

Camilo Latuzis

        “A temática de Valionas Goitasin em Realité Humaine externa uma visão oblíqua do cosmos, uma composição poliédrica, translacional, plurifacetada, que, não obstante guardar conformidade com o viés original, mostra uma perspectiva calidoscópica, em que se manifesta inquietante presença lúdica estruturada na métrica das orações, a partir da qual se verifica que a verdade é a proposição mais abrangente, porém válida apenas como ponto de chegada, após uma laboriosa construção por parte do sujeito do conhecimento. Depois de demarcar a originalidade do organismo e da percepção, desencava um solo mais fundo, que os precede, uma dimensão anterior à oposição entre sujeito e objeto, entre percepção e linguagem.”

(Camilo Latuzis é professor de Literatura Comparada da UNIMER)



Rosilda Faskenus

        “A ontologia goitasiniana de Realité Humaine é negativa no sentido exato em que trata da Teologia Negativa. Proclama o Ser através do ente, que mais se ilumina se contraposta à inflexão de Heidegger, assinalando uma mudança de ênfase na articulação entre a questão que pergunta pelo sentido do Ser e aquela que interroga a estrutura daquela que formula a primeira pergunta: o Dasein (Ser aí). Só a exibição do modo de ser desse Ser poderia encaminhar a questão ontológica. O lugar do conceito que fora interpretado como realidade humana é, agora, a mansão do Logos, que tem como guardiães os poetas e os filósofos da linguagem.”

(Rosilda Faskenus é jornalista, filósofa, poeta e compositora)



Ariosto Lorena Pugeu

        “Valionas Goitasin debruça-se sobre a mímesis. Busca desvendar os enigmas da transformação do real através dos códigos simbólicos, e o faz com enorme talento. Merecia uma Festschrift, homenagem literária que os discípulos alemães prestam aos grandes mestres. O autor cultiva a predileção pela descontinuidade, paixão pelo fragmento, pela interrupção. O enredo não é linear; há o abalo da unidade semântica e um forte nível de experimentação da linguagem. É possível reconhecer, ainda, influxos de hermenêutica, sociologia e história, sugerindo uma apropriação do instrumental da estética da recepção, procurando mapear atitudes, recriar o passado, identificando uma compreensão histórica, pré-condição para o estabelecimento da semântica historicizante. É preciso deixar bem claro que não li o livro, para que minha crítica pudesse ser isenta e imparcial.”

(Ariosto Lorena Pugeu é especialista em Teoria da Literatura)



Confusote, não?


Nota

        Chama-se “Criticastro “a um crítico reles com fumos de gramático e desejos de agradar a esquerda, dedicado a enaltecer os “nobres feitos” do barbudo Fidel Castro... Aliás, é o que mais se vê por aí... na maior cara-de-pau, gente que se tem por esclarecida, mas que não tem colhões para contrariar os “progressistas”.


EDITOR

Aquele que tem por indústria explorar um mercado que proclama o triunfo do óbvio, da simplicidade, do palatável, da figurinha, sem a menor preocupação com a formação do leitor.

Comentário

        São os editores o veículo pelo qual a grandeza da idéia cede espaço à deificação do banal, à glorificação dos ídolos de pés de barro. Digitando o teclado, ora o cronista menor — comprometido com a mediocridade das coisas, seduzido pela facilidade e a pequenez de fofocar sobre pessoas famosas —, ora o ghost-writer subornado para registrar as peculiaridades e extravagâncias dos tipos de fácil aceitação popular ou convocado para dar fama imorredoura a receitas de rosquinhas preparadas por padeirinhas bem-sucedidas e a desfrutáveis experimentos de transexuais. Incluam-se no rol compilação de provérbios populares elaboradas por mentes preguiçosas e despiciendas normas de etiqueta celebrizadas por colunáveis frívolas e colunistas pedantes, todos esses órfãos de idéias, reféns da bajulação.
        Pelas editoras, os formadores de opinião determinam roteiros e estabelecem glossários para a carneirada fingir que é feliz peregrinando pelos botequins do Rio, pelo pólo gastronômico do Leblon, e dão outras sugestões encontradas nos abecedários, nos magazines de bela roupagem e conteúdo duvidoso.
        Prostitutas surfistinhas são copiadas por redatores, desses que, nas páginas dos jornais de bairos, se propõem a elaborar teses e monografias de qualquer assunto (humanas, técnicas, etc.).
        Egressos do asqueroso BBB escrevem livros — ignorantes que mal ligam duas palavras; a tropa dos jornais e tevês — os que têm e os que não têm talento — sempre encontra apoio para publicar suas crônicas, em sedutor troca-troca; há o filão das fotos, das figurinhas, auto-ajuda, os que “fazem da pena bisturi para dissecar a vida dos contemporâneos” e, sobretudo, os que a usam como turíbulo para incensar as celebridades; na esteira do sucesso do filme Capote, já desovaram dois títulos; da Copa do Mundo, nem se fala.
        Há 5% para João Ubaldo & Cia e traduções importantes, porque eles sabem que há idêntico percentual de quem segue o que dita a própria cabeça.. Cotas! É isso aí! São jogadas nas tais planilhas custo/benefício e presto! Está feita a mágica! Dinheiro! Quem impõe as condições, gosta de e quer dinheiro, a carneirada não sabe o que quer, eis a equação. De repente me dou conta de que estou indo às raias do patético para constatar o óbvio. Um negócio, apenas. Nem sei por que falei tanto até aqui.
(Quem Mais Fala Do(s) Livro(s)), Érico Braga Barbosa Lima, Editora Antigo Leblon
– Depoimento de Rogério S. Barbosa Lima, 2006)

Pano Rápido

        O diretor de uma revista literária:
        — Tens aí algo pra mim, ó poeta?
        — Sim. Um poemeto que foge aos moldes usuais. Há de agradar a alguns
boêmios... pelo menos vão compreende-lo.
        — Então não publico. Para agradar, é preciso que ninguém entenda.

        O escritor telefonou para a editora à cata de notícias sobre um manuscrito que enviara havia já seis meses sem que houvesse qualquer retorno.
        — Era um romance histórico? — quis saber o dono da editora.
        — Não — respondeu o autor. Pelo menos não era quando o enviei.


LEITOR

É simplesmente o ledor, o indivíduo que adquiriu o hábito de ler.

Comentário

        O leitor brasileiro nunca se constituiu. Foi constituído. Tudo lhe foi outorgado, como se ele fosse um imenso autômato. A instrução no Brasil é quase nula, porque nulo é o gosto de instruir-se. Ademais, não há estímulo fora da eventual influência caseira (É o que nos ensina Tobias Barreto em seu “Um discurso em mangas de camisa” ou em outro texto dele cujo título agora me escapa)
        Para simplificar, vamos dizer que há dois tipos de leitores: o leitor movido pela curiosidade intelectual inata, forjado no seio da família, um herdeiro, um leitor de berço, e o leitor-consumidor, alvo da artilharia editorial-publicitária. E o que prepondera é a imagem publicitária. O próprio valor da palavra parece em estado terminal. O que confere méritos à sociedade é, antes, seu desenvolvimento, sua renda per capita elevada do que a solidez dos mecanismos de proteção à educação.
        Os leitores de berço podem até enveredar pelas agruras floridas dos best sellers, mas não são todos. De qualquer modo, seu universo é reduzido, irrelevante para os projetos financeiros dos editores.
        Quem vai formar o leitor?
        Tirando as redentoras e raríssimas exceções, não existe o “leitor”, mas o “consumidor”, e a quase totalidade dos consumidores é mera depositária de concretitudes e soluções finais que os editores são “obrigados” a veicular.

(Quem mais fala do(s) livro(s)?!... – EBBL – Depoimento de Rogério B. Lima, 2006)


LIVREIRO

Comerciante de livros, CDs, charutos, comestíveis, miçangas, chaveiros e outros artigos, que bajula os escritores famosos e trata o autor pouco conhecido como se fosse um inoportuno e insistente vendedor de bobinas.

Comentário

        Em tempos idos, os livreiros faziam as vezes de conselheiros de muito autor ilustre e admitiam funcionários qualificados para orientar os leitores. Atualmente, com raras e honrosas exceções, tornaram-se negociantes que contratam mão-de-obra barata, empregados despreparados, orientados para empurrar goela abaixo dos fregueses as baboseiras dos best sellers e as dejeções dos novidadeiros de plantão.

Pano rápido

        Leandro, cotista de uma dessas universidades feitas nas coxas, trabalha, na parte da tarde, num sebo elegante de Shopping Center. Um belo dia surge um cliente que se encanta com uma bíblia impressa pelo próprio Gutemberg, o bem mais valioso do acervo. O burro, além de atribuir à peça um valor irrisório, dá quarenta por cento de desconto porque, como faz questão de acentuar, folheando o livro com ares de expert, “Um tal de Martinho Luthero rasurou todas as folhas”.
(Quem mais fala do(s) livro(s)?!... – EBBL – Depoimento de Rogério B. Lima, 2006)